quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O jogo dos dedais

Há alguns anos atrás era muito comum encontrarmos no centro Santa Maria, assim como em tantas outras cidades brasileiras, o jogo dos dedais, onde uns espertalhões tomavam, com muita facilidade e rapidez o dinheiro dos que se aventuravam em apostas. Cabia aos vigaristas esconder uma bolinha de espuma em um dos três dedais presos aos dedos de uma das suas mãos e ao apostador descobrir em que dedal ela estava. O operador do jogo deslizava as mãos sobre um tabuleiro ao mesmo tempo que, com uma conversa fácil convincente desafiava os transeuntes a participarem do jogo. Os desavisados paravam e observavam os movimentos dos dedais sobre a mesa, logo caiam na tentação do dinheiro fácil, pois tinham a certeza de onde estava a bolinha. Não adiantava, naquele jogo nunca se ganhava, sempre se perdia. Lembro-me que um amigo aprendeu este jogo e o fazia, não por dinheiro, mas com brincadeira para divertir os colegas, nunca acertávamos embora sempre tivéssemos certeza de onde a bolinha se encontrava, ele virava o dedal e nada, a bolinha não se encontrava ali, nos dava mais uma chance e mesmo assim nada. Nunca ganhamos, nunca ninguém ganhou. O tempo passou e os tabuleiros de dedais sumiram, meu amigo, como todos nós ganhou idade, e perdeu a habilidade, nunca mais fez o jogo dos dedais, mas também nunca não contou como nos enganava.

É assim que me sinto em ano de eleição, como um transeunte que se encanta com o jogo dos dedais e se aventura na aposta. Neste jogo os políticos ocupam o espaço dos espertalhões e eu o papel do apostador. Independente da escolha vou perder, independente da escolha todos nós vamos perder, sempre é assim, o jogo é assim, a nossa política é assim, grande parte dos nossos políticos tomaram este rumo. Tal qual o jogo, nos deixamos iludir, caímos na conversa fácil, fazemos nossas apostas e perdemos. Os noticiários estão ai, diariamente comprovando esta dura realidade, diariamente escancarando escândalos envolvendo nossos políticos, nossos representantes, em desvios de verbas, tráficos de influência e em tantos outros delitos, de fazer inveja a muito mafioso. Os políticos que escapam desta sina criminosa, não escapam da tentação de colocarem os seus interesses partidários, os seus interesses particulares e a sua sobrevivência junto ao poder, acima dos interesses do povo que os elegeram, e assim, continuo perdendo, continuamos perdendo.

Com o tempo a polícia tirou de circulação muito destes vigaristas, as pessoas se deram conta do golpe e deixaram de bancar apostas e as bancas de jogo dos dedais sumiram. Tenho a esperança de que a justiça brasileira um dia tire de circulação muitos destes políticos corruptos, e que o povo um dia deixe de bancar apostas nas urnas e passe a votar com consciência e discernimento, e que finalmente tenhamos governantes honestos e verdadeiramente comprometidos com os interesses do povo e com os do país. Espero ver isto um dia, quero muito ver isto, quero poder olhar para as minhas filhas e dizer: vocês vivem num país justo.

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